Pablo Pineda Ferrer, um actor espanhol com Trissomia 21, ganhou o prémio de melhor interpretação no 57.º Festival Internacional de Cinema de San Sebastian com o filme "Yo, También".
O actor interpreta o papel de um universitário com Trissomia 21 que se consegue licenciar e que se apaixona. E na verdade não foi só neste mundo do cinema que Pablo viveu uma experiência universitária pois foi ele a primeira pessoa com Síndrome de Down a obter uma licenciatura, no seu caso em Direito.
Reproduzimos agora uma entrevista realizada pela Solidariedade Digital a Pablo Pineda:
Pablo Pineda é a primeira pessoa com Síndrome de Down a obter uma Licenciatura numa universidade regular em Espanha. Contudo, insatisfeito com tamanho feito, encontra-se presentemente a estudar Psicologia Educacional, enquanto trabalha no município de Málaga, em Espanha.
O seu sucesso tem sido acompanhado por uma constante luta contra o preconceito, particularmente relativo ao Síndrome de Down. Portanto, não tem sido propriamente um jardim de rosas. Este actor disse-nos que este tipo de incapacidade não é uma doença mas apenas mais uma "característica pessoal".
Seguidamente, apresentamos os destaques da entrevista.
Foi difícil para si estar na universidade?
Sim, tem sido bastante difícil enfrentar o preconceito existente em relação à Trissomia 21 e, ao mesmo tempo, tentar lidar com as exigências académicas do Ensino Superior. Contudo, estes desafios também têm sido extremamente gratificantes.
Que preconceitos existem relativamente ao Síndrome de Down?
Em primeiro lugar, eu não considero que Síndrome de Down seja uma doença. Para mim é uma característica pessoal. Eu estou bem e saudável. Não devemos ser tratados como doentes. Existem outros preconceitos e poderia ser escrito um livro sobre eles. Há reacções como pena, a concepção errada de que não somos inteligentes e uma longa lista de interpretações sociais e morais incorrectas. Felizmente, estamos a ultrapassar alguns destes equívocos. Eu estou apenas a fazer a minha parte e a demonstrar que sou tão competente como qualquer um.
Faz ideia se a situação de pessoas com Síndrome de Down é melhor noutros países?
Itália é o único país no qual eu sei que as coisas estão melhores para pessoas com Síndrome de Down e isto está relacionado com a tradição democrática deste país pois os assuntos alusivos a esta diferença têm sido considerados há muito tempo. Quanto a Espanha, com uma história democrática recente, estão agora a ser discutidos esses assuntos e, no geral, a situação não está má. Podemos dizer que Espanha e Itália são os países líderes neste campo. E isso é bom. Contudo, ainda há muito a fazer.
Como se dá com os seus colegas e professores?
Houve uma surpresa que foi ultrapassada: ninguém espera ter um colega de turma com Síndrome de Down. Mas depois disto, a minha comunicação com o resto dos colegas foi boa e rapidamente fiz amigos em todas as aulas. Encontrei velhos amigos nas aulas de Psicologia Educacional e isso foi bastante bom. Quanto aos professores, sou só mais um, uma vez que não necessito de nada em especial. Eles dão as aulas e eu tomo notas.
O que gosta mais na universidade?
Sem qualquer dúvida, as melhores coisas são conviver com os meus amigos e colegas de turma e participar em todas as actividades. Eu aprecio a liberdade. Qualquer pessoa que estude numa universidade sabe que se faz o que se quer, ninguém está a controlar. Estar no Instituto enfatiza esta sensação de liberdade.
O que gostaria de fazer no futuro?
Eu quero trabalhar. Onde... veremos. Como qualquer outra pessoa, quero trabalhar no meu campo, na área da educação.
Que mensagem gostaria de enviar à sociedade?
Eu gostaria bastante de me tornar um exemplo. Eu quero demonstrar que se uma pessoa põe algo em acção, qualquer uma é capaz de concretizar o que quiser. Mas independentemente do que conseguir alcançar, eu também espero que a sociedade faça a sua parte. Eu não quero que isto seja o esforço de uma só parte. Isto é o início do sucesso e mostra ao mundo que somos tão competentes como os outros. Se estão a ser definidas barreiras, então estão a ser destruídas possibilidades para muitos outros. É essencial que a sociedade entenda tudo isto.